Estamos partindo também um pouco por dentro

Sempre perdemos algo, seja material, sentimental, amigos, parentes e influenciadores. Isso mesmo, eles sempre existiram e eram muito mais interessantes que os de hoje. Nos brindavam com talento e emoção

Estamos perdendo nossos artistas, nossas referências. Não é de hoje que sabemos que um dia nascemos e, algum tempo depois, deixamos de viver. É a natureza. Faz parte do ciclo. O que não pensávamos talvez era que um dia a conta chegaria e nos levaria nossos melhores inspiradores. Todos nós temos pessoas que, de certa forma, nos inspiraram e motivaram a algumas posições e situações ao longo da vida. Sejam artistas, músicos, pensadores, enfim, a gama é extensa.

Mas parece que, desde o início dessa década, vemos vários deles indo embora, muitos nem se despedem nos deixando sem entender o porquê. Quantos dias acordamos com a notícia de que alguém partiu sem se despedir. Isso acontece sempre. Algumas pessoas, mesmo que não as conheçamos pessoalmente, acabam fazendo falta. São as personalidades que aprendemos a conviver de alguma forma, seja as vendo encenar em teatros, televisão ou atuando em filmes. Há também aqueles que nos encantam com suas belas canções. As artes também são representadas em nossas vidas e nos fazem falta suas perdas.

Minha geração tem sofrido com isso mais intensamente e é natural, uma vez que o tempo passa para todos. E, como muitos são contemporâneos, vamos chegando ao fechamento do ciclo. Eis alguns nomes que suas passagens deixaram uma lacuna que até hoje só nos é permitida pelas suas obras: Nicete Bruno, Paulo José, Flávio Migliaccio - este último preferiu nos deixar mesmo que a vida ainda lhe fosse permitida. Triste, mas é a vida. Como ri com o “Xerife” em minha infância! Milton Gonçalves, Chica Xavier e Eva Vilma, esta me lembrava minha querida mãe.

Grandes referências se foram sem ao menos nos deixar um adeus, casos de Aldir Blanc, Artur Xexéu, Danusa Leão e Arnaldo Jabor. Este sim nos brindou, tempos atrás, com a perfeição em nos mostrar a diferença entre “amor e sexo”. Tem também aquelas perdas de pessoas que admiramos e que imaginávamos que eram eternas, pois nos traziam para uma catarse única, como Paulo Gustavo e sua “Dona Hermínia” - fantástica! Orlando Drummond, que dava voz ao Scooby Doo e ao Alf, que reinavam em minha TV me fazendo esquecer um pouco da rua e dos amigos, apenas a fixação nos desenhos e nas vozes interessantes e instigantes. E Isaac Bardavid, que, além de um grande ator, também era um dublador de primeira. Quem não se lembra do esqueleto de “He-Man”? Pois é, era ele quem dava as falas sarcásticas do personagem.

Ainda sobre a imortalidade que pensávamos existir para alguns mortais, encontram-se Pelé, o maior de todos, o Rei do futebol, o admirado pelo planeta; Jô, o maior entrevistador brasileiro; e Juca Chaves, o eterno menestrel. São tantas as perdas que nos perdemos em sensações. Como disse antes, ainda bem que a arte de todos está gravada em nossas memórias e na tecnologia, que nos permite acessar a qualquer momento e reviver emoções. Gilberto Braga nos deixou e agora está montando um elenco de primeira no céu com Tarcísio Meira, Luis Gustavo, Daisy Lúcidi, Eduardo Galvão, Françoise Forton e a participação, mais que especial, de Marina Miranda (“oh nega difícil”!). Será uma série ou folhetim? Tanto faz, com esses atores o sucesso é garantido e com a direção do mestre do suspense brasileiro, o José Mojica, nosso Zé do Caixão.

Parece que Genival Lacerda, Elza Soares, Agnaldo Timóteo, Vanusa serão produzidos pelo Arnaldo Saccomani. Então podemos esperar mais sucesso. Quem fará uma dupla de respeito é Gal Costa com o Paulinho, do Roupa Nova. Por aqui já fizeram sucesso no passado e agora farão em outros ares. Maravilha. O Tremendão não pode ficar fora dessa. Afinal, de sucesso ele entende. Erasmo Carlos também tem um parceiro e ele é o Carlos Colla. Os dois juntos prometem emplacar vários hits por onde passarem. Palmirinha, Glória Maria e Leonardo Villar... Apesar de ser um grande ator, a memória afetiva que me remete a este último é quando ele substituiu o então protagonista da novela “O Primeiro Amor”, 1972, Sérgio Cardoso, faltando 28 capítulos para o desfecho da trama. Até hoje reza a lenda de que ele foi enterrado vivo, fato negado pela família. Enterrado vivo ou só mais uma lenda urbana?

E não podia faltar a lembrança dos internacionais. Daqueles que, fora do nosso país, também nos emocionaram de alguma forma. Sim, até mesmo uma roupa ou um perfume pode nos emocionar, ao receber, ao se apaixonar, tudo vale a pena sentir. Nessa linha temos o Paco Rabanne, mais um artista da moda e das essências que nos deixa. Pelo visto, daqui a pouco vamos voltar ao começo, sem roupas e sem cheiros. Irena Cara, Jean-Luc-Godard, quem nunca se sentiu atraído para ver um de seus filmes? Sim, a intelectualidade proeminente sempre quis saborear pensamentos, mas poucos conseguiram ir até o fim do prato principal. Seria ele o Einstein da sétima arte?

Kristie Alley. Essa foi, talvez, a minha primeira “crush”. Adorava seus filmes e sua beleza estonteante fazia com que as reprises fossem cada vez mais acessadas. Olivia-Newton-John, ela é a beleza rodeada de talento. Perdi a conta de quantas vezes assisti a “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” só para ver a menina meiga se transformar naquele mulherão do fim da película. Mas deixei por último aquela personagem que, assim como para mim, acredito que muitos acreditavam ser para sempre, mas parafraseando Renato Russo, “…Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre acaba…”, pois é, e não é que acaba? Saudades das brincadeiras e da longevidade de nossa eterna Rainha Elizabeth.

São tantas pessoas que nos deixam e que, de certa forma, fazem parte de nossas vidas que sentimos também. O importante é saber que, de alguma forma, ficaram marcadas em nossas memórias. Por hoje vou parando por aqui para não dar sopa para falta de sorte, pois não gostaria de incluir mais ninguém aqui. Pelo menos por enquanto, já que ficaram tantas outras personalidades de fora dessa lembrança... Já imaginou se eu coloco todas de uma só vez? É isso aí, não daria o espaço.